quarta-feira, 2 de maio de 2012

REFLEXOS DO ETNOCENTRISMO SOBRE O MEIO AMBIENTE

REFLEXOS DO ETNOCENTRISMO SOBRE O MEIO AMBIENTE
“Porque mudar? Como é importante educar nossas crianças sabendo lidar com as diferenças...”
                Como bem afirmou uma antropóloga do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a floresta ainda existe graças à ação de pessoas como as das quilombolas, que lutam pela sua liberdade numa história que começou no século XVII, no período colonial, época em que os europeus enxamearam no novo Mundo para dominar uma vastidão quase despovoada e quem diria; os europeus que eram os protagonistas da história perderam a atenção que se voltou para as duas populações majoritárias: africana e indígena.
                Como se sabe o etnocentrismo  pode ser definido  como uma visão de mundo onde  determinado  grupo é tomado  como centro de tudo e todos os outros  são pensados e sentidos através dos valores daquele,  por se julgar superior.  E foi exatamente isso que aconteceu quando iniciou a colonização de norte a sul nas Américas, onde ex-escravos e indígenas fundavam povoações híbridas conhecidas, em inglês, como comunidades marrons, do espanhol cimarrón, ou fugitivos.
                A complexa interação entre negros e nativos é um drama oculto que tanto historiadores quanto arqueólogos há pouco começaram a desvendar.
                O fato é que nessa luta pela liberdade e sobrevivência, os escravos e indígenas, guardaram reservas de valor inestimável ao meio ambiente.
                Escravos se escondiam em quilombos, protegidos por um labirinto de rios e por matas impenetráveis, resistindo durante séculos e, mesmo após abolição da escravatura no Brasil em 1888, não houve o término da discriminação o que fazia com que continuassem escondidos.
                Nos anos de 1960, o governo militar brasileiro decidiu desenvolver a bacia Amazônica, com a justificativa de que seria o destino da nação, destruindo grandes extensões florestais.  Especuladores queriam fazer dinheiro rápido: desmatavam, abriam pastos para fazendo de gado e procuravam o próximo comprador. Inúmeros quilombos foram dizimados.  Mas muitos conseguiram sobreviver, entre eles o  Baixo Bajuru.
                Nessa multidão de negros está Bettina dos Santos, nascida há cerca de 70 anos, que não pôde ir à escola, e arriscou a vida para protestar contra o desmatamento.  E esta é apenas um exemplo que resistiu bravamente à ação nefasta sobre o meio ambiente  do homens que almejavam o enriquecimento.
                Em 1980, geólogos descobriram a bauxita e o caulim na bacia hidrográfica adjacente, também ocupada por quilombolas e mais uma vez as terras foram loteadas pelo governo, que licenciou para as mineradoras e mais uma vez estava Dona Bettina na luta e acabou por conquistar o título de posse em 2008, do Baixo Bajuru.
                Enfim, como já dissemos esta é apenas uma história, assim como a da fundadora dessa nação de quilombola, Aqualtune, uma princesa e chefe guerreira angolana, escravizada em uma guerra congolesa por volta de 1605, que logo após chegar ao Brasil, grávida, escapou com alguns de seus soldados e refugiou-se na serra da Barriga, e construiu Palmares.  Hoje a antiga área do quilombo é uma reserva protegida. 
                O esforço para a salvar a floresta trouxe conseqüências impremeditadas aos quilombos.  O surto de desmatamento na Amazônia nos anos 1970 provocou furor mundial.  O líder seringalista Chico Mendes, do Acre, liderou uma campanha pelo reconhecimento da importância da Floresta Amazônica e dos direitos dos seus povos tradicionais, incluindo os moradores dos quilombos e após a promulgação da Constituição Federal democrática de 1988, Chico Mendes foi assassinado.
                Enfim, muito se lutou, muitos morreram em uma guerra silenciosa dentro da Floresta Amazônica, e queremos ressaltar a fundamental importância da resistência dos indígenas e negros neste processo de defesa do meio ambiente que, sendo vítimas do etnocentrismo levantaram a bandeira em defesa não só da sobrevivência de seu povo como em defesa da natureza.

FONTE DE PESQUISA:
O QUE É ETNOCENTRISMO, de Everardo P. Guimarães Rocha, Editora Brasiliense, 1988
REVISTA NATIONAL GEOGRAPHIC, Abril 212, Ano 1

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